Teletransporte
- Marininha
Com cinco anos, meu mundo se consistia, basicamente, no caminho de casa para a escola, e na barrenta e sinuosa estrada que nos levava até Paraty. Fora isso, conhecia algumas grandes e tumultuosas “cápsulas do tempo”. Basicamente, você entrava, se sentava comodamente por algumas horas e, num piscar de olhos, as portas se abriam. Um lugar que você nunca tinha visto antes aparecia logo em baixo dos seus pés, ao descer a escadinha do avião.
Também me lembro de ir à prainha de Jurumirim. Algumas vezes para esperar meu pai chegar de viagem, outras, para me despedir dele e assistir o veleiro desaparecer no horizonte entre as numerosas baías de Paraty. No momento em que o veleiro partia, iniciava-se a contagem regressiva para o dia da volta.
Foi naquele ano de 2005 que comecei a ouvir meus pais falando em nos levar para conhecer o tal lugar para onde todos os anos nosso barco ia, ao atravessar aquele mesmo horizonte. Nossos pais costumavam nos contar incríveis histórias sobre a sobre a Antártica, e pensar que eu e minhas poderíamos ser protagonistas de alguma delas nos deixou absolutamente facinadas. Foi mais ou menos assim, entre uma conversa e outra, que nossa primeira viagem à Antártica passou de uma ideia maluca para um plano em execução.
Depois das onipresentes complicações burocráticas, listas encadernadas de supermercado e outros esforços, nossa primeira ida à Antártica se concretizou. Durante o caminho, entre uns enjoos e outros, brincávamos de escorregar na popa do barco, fazendo um bom uso do balanço agitado que as ondas do Drake causavam. Segurávamos o leme do veleiro para nos sentir em controle da tripulação (mal sabíamos da existência do piloto automático), e sentávamos na proa na tentativa de achar o primeiro iceberg.
A passagem pelo Estreito de Drake, divisor de águas entre o oceano Atlântico e Pacífico, nos fez perceber que o caminho também faz parte da viagem. Diferentemente de no avião, ao entrarmos no barco, sentimos na pele cada etapa da viagem, percebemos cada litro de água por que passamos, vivemos riscos, superamos desafios, e aprendemos que só sendo uma equipe é possível chegar.
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