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Como viver no pior lugar do mundo

Terra incógnita: Como viver no pior lugar do mundo

por Tamara

Anúncio no auto falante, diz o capitão do navio: Vento a mais de 90 nós, passadiço interditado até que o tempo melhore, não saiam em hipótese alguma. Outro aviso vem em seguida, a voz do biólogo da tripulação: Pedimos para que os senhores mantenham a luz da cabine desligada para não atrair os petréis e albatrozes que voam perto da costa. Era tarde já, minhas irmãs e eu estávamos sozinhas na cafeteria montando quebra cabeça. A Europa estava completa, o Oceano Atlântico, o sul da África do Sul.

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Cedo ou tarde, vamos ter que admitir: o pó existe

Cedo ou tarde, vamos ter que admitir: o pó existe

por Tamara

No carro há mil horas. Marininha já me provocava se espalhando pelo banco de trás, a linha de frente da coxa avançando sobre o risco divisório entre o campo do meu banco e campo do banco dela. Eu não levantaria a voz tão cedo. Foi minha ideia fazer a família atravessar a Namíbia de carro. A Laura dormia profundamente com a bochecha esquerda enterrada no vidro e o pé esquerdo na minha perna direita. Aguenta. Mais um pouco e chegaremos a algum lugar com gente.

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cachorro africa do sul

Nota Sobre o Amor

- Tamara

Foi sequestrado em Paraty. Corria ávido pela praia do engenho e, ao nos ver, veio dar em cima. Aquela coisa de pedir carinho, se esfregar na perna e correr atrás do galho que a gente atira. Pelo estado, não tinha dono – enfiamos na caçamba da picape e pegamos estrada.

Paramos na cachoeira da estrada de Cunha. Foi lá o batizado e o banho de água doce pra tirar o excesso de lama com areia dos olhos. Água sagrada de Paraty, padrinho, madrinha e nome: Rufus.

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mar drake golfinho

Sublimação intransponível

- Tamara

Pra onde o Pacífico e o Atlântico pelo Sul conversam, damos o nome de Drake. O encontro, no veleiro, é medido em dias: 7, na vela, ou 3, no motor.

Prefiro chamar de conversa do que de discussão. Às vezes, os dois oceanos brigam como pais e filhos falando de política. São dias de cama e jejum, sem sair nem pra ir ao banheiro.  Outras vezes, os oceanos falam de música, de arte, de café. Nesse caso, o mar vira azeite, o barco quase não mexe e parece que nem saímos dos canais chilenos.

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São Francisco do Sul

- Tamara

Eucaliptos, araucárias, ingás, coqueiros e, por fim, pisamos na restinga, descalças. Dobramos a barra da calça e entramos no mar de São Francisco do Sul (SC).

Fomos para ver o Museu Nacional do Mar. Em uma crise de gestão, o museu anda hoje escondido, mas guarda uma das mais importantes coleções de embarcações tradicionais do mundo. Um pouco triste ver, coberto de pó, um conjunto de obras lindíssimo, produzido por gente que dedica a vida à arte de fazer canoas.

Estava de baixo da poeira o maior aprendizado da viagem.

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