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Chapada Diamantina

- Tamara

 A trilha das águas claras era interrompida por uma série de riachinhos, e chuva caía e levantava a cada 100m de caminhada, quando a nuvem carregada da evaporação do oceano encontrava o Morrão. Entramos na cachoeira, felizes com o volume anormal de água. Ir embora não nos tirou da piscina, que começou a cair do céu, ensopando lanches, câmeras fotográficas, e enchendo nossos tênis de aquários lamacentos.

Agora os riachinhos pareciam sair de turbinas hidroelétricas.

O guia, Vítor, nos ajudou a encontrar, literalmente, o caminho das pedras, agora invisíveis. Nem o carro escapou do atolamento, na estrada argilosa que parecia manteiga. Largamos o automóvel no meio do trajeto até a pousada e tomamos a chuva de boca aberta.

A ilusão de lindos dias de sol se desfez na manhã seguinte. Chovia no Capão como não acontecia em 5 anos. Meu pai achou melhor fugirmos da estrada, mais obstáculo que caminho. Fomos para a Lapa Doce, uma gruta com salões gigantes e piscinas abastecidas com água escorrida das estalactites. Também visitamos o Morro do Pai Inácio. Minha mãe disse que era um dos sonhos dela estar lá conosco. Acredito que na ânsia de tornar o momento inesquecível, acabou por torná-lo invivível: parou de fotografar tarde o suficiente para termos de ir embora.

O dia seguinte tinha sol para todos, menos pro meu pai, que agora possuía uma linda, imponente e pálida bolha em cada calcanhar [Espero que, com isso, ele tenha aprendido a importância do uso de meias]. Desiludidos com a possibilidade de fazer a trilha de 30km para a Fumaça, fomos para a Caverna Torrinha. O diminutivo do nome não fazia jus à facilidade da locomoção de nosso familiar debilitado, nem ao seu comprimento e sua diversidade de formações. Apesar de não ser tão ampla quanto a Lapa Doce, essa caverna coleciona uma floresta de flores de argonita, bolhas de calcita e agulhas de cristal pelos seus mais que 6km de extensão visitáveis. Além disso, tem um salão de 100x200m sem colunas, que me deixou arquitetônicamente inquieta.

O resto do dia foi de exploração. Fizemos um piquenique no posto mais lindo do Brasil. Comemos torrada e queijo no posto embargado, na cara do Morro do Pai inácio.

O Alcino, um amigo da estalagem, nos recomendou um passeio pelo pantanal no Rio Remanso. Nos perdíamos enquanto a cobrinha do GPS ia crescendo em espirais. Fui abrindo e fechando as porteiras das fazendas desconhecidas, até meu pai (que detesta pedir informação) recorrer aos agricultores. Andar por aquelas fazendas me deu outra visão da Chapada, e gostei de termos nos perdido. Chegamos à comunidade quilombola e entramos no barco à remo que nos levou até a cachoeira. Eu contribuí na ida, e deixei a Marininha remar na volta, mas sobrou pro meu pai e pro Mazinho fazer as 10 milhas náuticas (18km) no braço.

Voltamos a tempo de fazer outro piquenique, agora com vista para o Morro do Camelo, com a luz do sol poente, da lua e de uma tentativa fracassada de fogueira.

Não ‘ticamos’ metade dos destinos previstos. Mas que graça tem tratar uma viagem como uma lista de supermercado?

Acho que devo às adversidades e imprevistos alguns bons amigos, descobertas de lugares inusitados e a certeza de que, num tempo onde as vivências são compráveis, ter tido uma experiência autêntica que não conseguiríamos repetir.

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