Paraty

O mundo em poucas linhas

O Mundo em Poucas Linhas

-Tamara

Escrevo como uma draga come o fundo de um canal. E come um rio, e come um fundo de mar inteiro.
É meu tempo que drago ferozmente, ao tatuar meus dias nos maços de papel.
Escrevo anos há anos, mesmo sem ter vivido tantos assim. E eu já sei: jamais lerei um quinto do que escrevi.
Isso porque ao ler o passado eu não me reconheço. E pois não quero admitir que nele eu me vejo demais.

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Navios são cidades provisórias

Navios são cidades provisórias

por Tamara

Os corredores do navio eram extensões das ruas da cidade. O barco deixava o cais com a dificuldade de uma criança que começa a desmamar. Se da cidade bebeu água limpa, provisões e combustível, agora, feito uma criança grande, partia só e lentamente, sem ter como ser carregado.

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O centro histórico de Paraty é o palco de um teatro sem fundo

O centro histórico de Paraty é o palco de um teatro sem fundo

por Tamara

E é nesse teatro que certa parte da cidade ganha pão, pois vende pão (e circo) pra platéia de inglês, francês, paulistano, carioca, e assim por diante. Patrimônio aham, preservadas as fachadas dos prédios do centro e um certo tanto do seu conteúdo. As gentes, essas sim, as gentes que ali moravam já não se sabe que fim têm levado —  diz com nostalgia quem morou na rua do comércio, naquela de janela azul e verde, na corrente, na rua do mercadinho.

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Seis desafios de morar em um veleiro

Seis desafios de morar em um veleiro

por Tamara

Cada vez mais me interesso pelas pessoas que moram no mar e pela forma como vivem. Deixar o trânsito da cidade, o ritmo urbano, a poluição e o estresse e viver entre o azul do céu e do oceano parece uma ideia sedutora para qualquer pessoa insatisfeita em morar entre asfalto e arranha-céus. A cada dia eu encontro mais brasileiros que venderam casa, empresa, se demitiram e compraram um veleiro. Também já conheci quem decidiu construir o próprio. Algumas pessoas vão mais preparadas, outras menos. Mas, muitas vezes, descobrem depois que habitar uma casa flutuante vai muito além de velejar.

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tamara-velas

Desvendar Parafusos

por Tamara

Tinha um vão entre o costado do paratii2 e a draga à qual estávamos atracados. Pulei o vão e corri para a draga feito um macaco pra dar o último abraço nos meus pais, Irmas e nossas amigas, Cris e Tamara, que em silêncio já sabiam desde o começo, na nossa chegada à Abrolhos, que aquilo iria acontecer.

Olhei pras caras do Rafael e do Danilo esperando a indicação de que sairíamos. Motores ligados, toda a tripulação (de 3) no convés em silêncio. “Tem que ter o feeling”, disse o segundo.

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na verdade

Na verdade,

- Tamara

O sonho é um monte de neve guardado num potinho. Na minha jornada pela superfície da Terra, colecionei suspiros, vi derreterem-se tesouros e reguei a fé que eu mesma assassinei. Minhas utopias materializadas tornaram-se desilusões banais. E me perguntei se era assim que as estrelas morriam, se fazendo visíveis. Mas não. Algumas estrelas expostas na areia da praia podiam  viver, se devolvidas ao mar a tempo.

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cachorro africa do sul

Nota Sobre o Amor

- Tamara

Foi sequestrado em Paraty. Corria ávido pela praia do engenho e, ao nos ver, veio dar em cima. Aquela coisa de pedir carinho, se esfregar na perna e correr atrás do galho que a gente atira. Pelo estado, não tinha dono – enfiamos na caçamba da picape e pegamos estrada.

Paramos na cachoeira da estrada de Cunha. Foi lá o batizado e o banho de água doce pra tirar o excesso de lama com areia dos olhos. Água sagrada de Paraty, padrinho, madrinha e nome: Rufus.

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criancas jurumirim

Jurumirim

- Tamara

Éramos duas. Marininha e eu, sentadas no convés do Paratii2 com as pernas penduradas pra fora, olhando, ancoradas, a baía do Jurumirim.

Naquela mesma baía, muitas vezes assisti meu pai indo ou vindo de algum lugar feito de história malucas, animais estranhos e quase-desastres.

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Paraty

- Tamara

Por 6 anos, meu objetivo na vida foi um só. A pele descascada nos meus ombros queimados era prova da minha dedicação para catar conchinhas. Em formato de borboleta, em cor de rosa, estreladas, enroladas e chatas, elas íam para o museu particular que eu tinha no quarto.

Aprendi a reconhecer lugares pelo formato, cor e espessura desses presentes da água. Em Paraty eram pequenas e arredondadas, em São Francisco do Sul, eram mais finas e compridas; no pantanal, marrons e quase esféricas(onde os tuiuius enfiavam o bico), na Antártica, pareciam pirâmides azuladas.

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